Fashionistando

Tel Aviv Fashion Week

Tel Aviv se orgulha de ser uma cidade dessas que nunca dormem. Também de ser muito liberal. E de se manter como uma bolha, não deixando a agenda política do Oriente Médio (onde está geograficamente, mas não psicologicamente localizada) interferir em seu cotidiano.

Tel Aviv se orgulha de ser uma cidade dessas que nunca dormem. Também de ser muito liberal. E de se manter como uma bolha, não deixando a agenda política do Oriente Médio (onde está geograficamente, mas não psicologicamente localizada) interferir em seu cotidiano.

Criada em 2011, a Tel Aviv Fashion Week realça a vocação da cidade para a festa, a liberdade e a criatividade, mas (ainda bem!) não abre mão de um perfume oriental, das raízes na tradição judaica e do flerte com a cultura árabe que é majoritária nessa região do globo. O resultado é uma experiência de moda única, que reúne elementos do Leste e do Oeste, da inovação e da continuidade, do contemporâneo e do histórico. Na junção de contrastes nascem as escolhas do Fashionistando durante a semana de moda israelense.

Guarde este nome

Ori Minkowski tem 14 anos e desfilou uma coleção divertida, como não poderia deixar de ser. O destaque foi a série de collants feitos a partir da bandeira israelense. O motivo da inspiração, mais do que patriotismo, foi um inconformismo fashion: “Achei feios os uniformes da delegação Israelense feitos para as próximas Olimpíadas e decidi redesenhá-los por minha própria conta”, diz.

Música e identidade

Ronaldo Fraga costuma dizer que “a moda deve ser capaz de transportar as pessoas para um lugar mais terno, menos fútil”. Lembrei da frase quando vi o desfile da designer veterana Tova’le. Ela conseguiu isso, como nenhum outro estilista nessa edição, ao emocionar (e transportar) o público, usando uma tradicional canção judaica. A plateia dançou e aplaudiu, assim como as modelos se divertiram na passarela, num improviso.

Aliás, identidade e trilha sonora caminharam juntas na semana de moda, que começou com o hino israelense e terminou com Hava Nagila, talvez a mais conhecida música judaica.

Diversidade de corpos

Israel foi o primeiro país a criar uma lei, em 2012, para assegurar que modelos com o IMC (índice de massa corporal) abaixo do ideal para cada garota (levando em consideração idade, peso e altura) fossem proibidas de desfilar. Em vez de protestos contra a intervenção, os estilistas locais abraçaram a ideia e, orgulhosamente, exibem na passarela modelos com idades e corpos mais diversos do que o que se costuma ver em outras fashion weeks mundo afora.

Fé e coexistência

Em Israel, há locais santos das três principais religiões monoteístas, o judaísmo, o cristianismo e o islamismo. A moda celebrou essa coexistência. Nos acessórios que fizeram parte do desfile coletivo de jovens estilistas, a Estrela de Davi estava lado a lado com a cruz e com o crescente e a estrela – esse último, um símbolo muçulmano. O kaffiyah, tradicional lenço árabe, ganhou releituras de dois estilistas: Dado Bar Or e Yaron Minkovsky. Sobre escolha do xale, Minkovsky justificou: “a moda está acima da política, judeus e árabes querem viver em paz”. As túnicas, outra indumentária muito usada por homens na região, viraram uma peça feminina bem sexy nas mãos de Shani Zimmerman.

Mais que desfile

A cada edição, um designer estrangeiro é convidado a mostrar suas criações em Tel Aviv. As marcas italianas Roberto Cavalli e Missoni participaram em anos anteriores. Em 2015, foi a vez do argentino radicado em Milão, Marcelo Burlon. Seu desfile foi aberto por um número de arte contemporânea (vídeo). O Gideon Oberson também contou com dançarinos na passarela, mas ao mesmo tempo em que as modelos desfilavam e que, na boca de cena, uma performance misturava escalada e grafitti. Tudo ao mesmo tempo agora.

Espaço para o novo

A faculdade de moda da College of Engineering, Design and Art, localizada nos arredores de Tel Aviv, é considerada uma das melhores do mundo nos mais conceituados rankings de educação. Durante a semana de moda, alunos da instituição mostraram suas criações num desfile coletivo, em colaboração com a marca New Balance. Os estudantes Amir Mark e Daniel Nau chamaram a atenção com peças divertidas e fora do comum, mas bastante usáveis.

Peças-desejo

Por fim, mas não menos importante (não mesmo!), as peças-desejo. Israel, como o Brasil, tem verão por nove meses e, durante um trimestre, aquele inverno tímido em certas regiões e severo noutras (faz calor no Sul do país, enquanto no Norte há neve). Com só uma semana de moda anual, o que se vê na passarela não é uma coleção separada por estações, mas uma profusão de propostas que servem a diferentes climas.

As silhuetas femininas da marca Bat-ka são do tipo “para usar imediatamente”, especialmente pelas saias estruturadas, que dão toque arrojado ao visual lady like. A marca Sample também apostou num romantismo contemporâneo, com espaço para alguma mistura com o guarda-roupa masculino.

As peças assimétricas e com fendas geométricas aparecem em propostas das marcas Dorin Frankfurt, Mew e North Star. Statment piece para o visual do dia ou da noite.

Na moda masculina, a chance de ousar nos detalhes: seja no conjuntinho (Maoz Dahan), no suspensório com ares modernos e na calça de couro com modelagem clássica, bem longe do estilo rocker ao qual, normalmente, a peça é associada.

 

*a jornalista viajou a convite do Consulado de Israel em São Paulo

 

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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