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A moda como um ato político: De Maria Antonieta a Michelle Obama

Siga o exemplo de quem sabe usar a moda como um forte instrumento político!

  • por em 1 de outubro de 2019

Dificilmente alguém que goste ou trabalhe com moda não ouviu, pelo menos uma vez, que esse é um assunto fútil e superficial. No entanto, além de expressar preconceito, esse tipo de frase demonstra um profundo desconhecimento da força e representação da moda ao longo da história. Muito mais do que refletir costumes, ela se mostrou um forte instrumento político, capaz, inclusive, de mudar contextos históricos mundiais.

A revolução fashion iniciada pela rainha guilhotinada

São diversos os livros e filmes que já retrataram a icônica Maria Antonieta como um símbolo de futilidade, uma vez que ela era reconhecida por seus gastos astronômicos com roupas e joias. No entanto, o que muita gente ignora é que a rainha usou a moda para se impor politicamente na sociedade francesa da época.

No livro “Rainha da Moda: como Maria Antonieta se vestiu para a Revolução”, a historiadora Caroline Weber expõe como a austríaca encontrou na moda uma forma de se estabelecer na corte francesa. “Mediante roupas e acessórios cuidadosamente selecionados, não convencionais, ela cultivou o que mais tarde chamou de ‘aparência de prestígio [político]’, ao mesmo tempo em que enfrentava um contínuo fracasso no front da procriação”, disse Weber .

Foi por meio da sua aparência que ela pode conquistar prestígio em momentos em que estava por baixo, como nos sete primeiros anos de casamento em que passou sem dar um herdeiro ao trono. A atitude foi algo inédito para a época, já que “antes, as soberanas francesas tinham de projetar uma imagem dócil, vivendo longe dos holofotes. Quem tentava se envolver em política e exibir seu poder por meio de roupas luxuosas eram as amantes dos reis”, afirmou Caroline Weber.

Já no livro “The Wicked Queen”, a autora Chantal Thomas aponta a relação de Maria Antonieta com a moda e toda sua ostentação como um dos vários motivos que levaram o povo francês a se revoltar durante a Revolução Francesa. O resultado disso todo mundo já sabe: guilhotina para um dos maiores ícones de moda da história mundial.

Jackie Kennedy e Michelle Obama: primeiras-damas e ícones

Se é para falar de moda e política no contexto contemporâneo, não tem como deixar de fora as primeiras-damas americanas. E nesse assunto, duas mulheres marcaram suas épocas por seus estilos e por saberem, como poucas, usar a moda como uma ferramenta diplomática.

Jacqueline Kennedy é, sem dúvidas, a primeira-dama mais famosa de toda a história e muito disso foi graças ao seu impecável estilo. Jackie sabia bem como seria julgada pelo que vestisse e, ao se tornar a mulher com maior visibilidade do país, procurou transformar a provinciana América dos anos 50 em algo moderno e elegante, assim como as principais cidades europeias.

Para isso, ela passou a vestir apenas estilistas americanos e lançou o conceito de Diplomacia do Guarda-Roupa. Um exemplo disso é uma viagem que fez à Índia, em 1962, em que usou várias peças em que predominava o rosa forte. Isso porque, certa vez, Diana Vreeland, diretora da Harper’s Bazaar, disse que o “cor de rosa é o azul marinho da Índia”.

Pois é, para ser um ícone, nenhuma escolha deve ser por acaso; nem mesmo a cor. Por coincidência, era rosa o tom do famoso tailleur que Jackie usava no dia do atentado que tirou a vida do presidente Keneddy, em 1963.

Foi necessário passar quase meio século para uma primeira-dama se equiparar à Jackie e, quis o destino, que fosse, além de tudo, a primeira primeira-dama negra da história americana: Michelle Obama.

Poderíamos dedicar essa matéria inteira apenas para enaltecer Michelle e explicar todos os motivos que a tornam um ícone fashion e uma das mulheres mais admiráveis do mundo. No entanto, a toda poderosa Anna Wintour, o principal nome da moda americana, resumiu perfeitamente a relevância da Mrs. Obama.

Recentemente, durante sua participação no podcast “The Economist Asks”, a editora da Vogue disse: “Eu acho que a primeira-dama Michelle Obama era realmente incrível em cada decisão que ela tomou sobre moda. Ela ajudava estilistas americanos e do mundo inteiro. Ela foi a melhor embaixadora que esse país poderia ter em diversas maneiras, não só para a moda”.

E não parou por aí! A entrevistadora quis saber também o que Wintour acha da atual primeira-dama americana, Melania Trump: “Mas ela não é a primeira-dama atual, o que acha da que temos agora?”. A resposta dela? “Para mim, Michelle é o exemplo que admiro”. Para bom entendedor, uma ignorada basta, né?

E já que o assunto é a Sra. Trump, vamos a ela.

Um equívoco chamado Melania Trump

Até agora, destacamos exemplos de mulheres que souberam, com maestria, usar a moda como instrumento político. Mas, nem tudo é elegância e diplomacia.

Melania Trump é o melhor/pior exemplo disso. A atual primeira-dama americana parece acompanhar bem as polêmicas do seu marido. Podemos dizer, inclusive, que ela ilustra, por meio do que veste, todas as posições do presidente Trump que, logicamente, são delas também.

Infelizmente, exemplos disso não faltam. Um dos mais polêmicos aconteceu no ano passado. Ao visitar um centro de detenção onde estavam crianças que foram separadas dos pais na fronteira entre o México e os EUA, ela usou uma jaqueta com os dizeres: “I really don’t care. Do you?” (Eu realmente não me importo. E você?). A escolha, claro, foi alvo de críticas em todo o mundo.

E esse não foi um caso isolado. Ao visitar um parque nacional em Nairóbi, no Quénia, Melania usou um chapéu ‘Salacot’, que é um símbolo do domínio colonial e opressão na África. Em resposta às críticas, ela disse: “Eu quero falar sobre a minha viagem. Eu gostaria que as pessoas se concentrassem no que eu faço, não no que eu uso”.

Parece mesmo que ela não entendeu que a moda é sim um poderoso agente comunicador. Nossa dica? Melania, leia a autobiografia da Michelle Obama. Você, certamente, aprenderá muito!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

Categorias:
ComportamentoModa
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